Carolina nasceu pobre em 1914, em Sacramento (MG), onde só pôde estudar por dois anos. Aos catorze anos, com a morte de sua mãe, ela se mudou para São Paulo. Autodidata, estranharam que uma mulher humilde soubesse pensar e escrever por conta própria. Alguns conservadores chegaram a acusá-la de “bruxaria”.

Sobreviveu como catadora. Sua primeira “casa própria” foi feita de entulho recolhido. Do lixo também resgatou livros e cadernos, insumos para seus escritos.

Em 1960, com a ajuda do jornalista Audálio Dantas, Carolina lançou o seu livro de memórias, Quarto de despejo. Sucesso, o livro acumulou mais de 1 milhão de vendas em treze línguas. A admiração no exterior veio antes de ocorrer no Brasil: virou referência obrigatória dos Black Studies (estudos negros) nos Estados Unidos antes das universidades brasileiras a reconhecerem.

Onde Carolina morava, a recepção de seus escritos também não foi boa. Alguns dos vizinhos não gostaram do que ela revelou sobre a favela. Antes chamada de bruxa, quase foi apedrejada. 

Seu livro de memórias inspirou a personagem Preciosa do livro Push da escritora norte-americana Ramona Lofton, publicado em 1966. Ramona se diz “impressionada porque os brasileiros dizem que nunca ouviram falar de Carolina de Jesus ou de seu livro.”

Seu pouco reconhecimento não durou. Em 1964 veio a ditadura militar. Com medo da censura, as editoras deixaram de divulgá-la. Morreu em 1977 e no esquecimento, sendo mais conhecida no exterior do que no Brasil. Única mulher dos três filhos de Carolina, Vera Eunice hoje se dedica a preservar a memória da mãe.